segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O guarda-roupa do Gentleman


Espero não os estar a maçar, mas o prometido é devido e aqui vai a tradução do primeiro capitulo de um livro que de forma simples, irónica e mordaz nos descreve como um Gentleman Inglês se vê e critica os preceitos da não elegância.

O guarda-roupa do Gentleman (tirado do livro Le Chic Anglais de James Darwen)


Vamos abrir com delicadeza as pesadas portas de mogno de Cuba com vistosas molduras de cedro preto e espreitamos.

O que o guarda-fatos contém depende muito evidentemente das actividades do nosso Gentleman. Se o nosso Gentleman, como numerosas vitimas das pressões dos tempos modernos, quer dizer da paranóia thatcherista e choramingas dos banqueiros em inicio de carreira, se o Gentleman se viu na necessidade de oferecer os seus serviços ao mundo dos negócios, o seu roupeiro não pode conter menos de – e é um mínimo absoluto – de:
• 5 Fatos para a cidade;
• 2 Fatos de tweed para usar no campo (inverter os números para os gentlemens tendo a oportunidade de viver numa zona rural ou para todos aqueles que querem dar essa impressão);
• 3 Casacos de tweed;
• 1 Blazer de trespasse sem emblema;
• 1 Smoking;
• 1 Ou 2 casacos de verão (falamos aqui do gentleman morando em Inglaterra);
• 2 Pares de calças de fazenda cinza;
• 3 Pares de boxers;
• 1 Cesto de meias (muitas das vezes por meios-pares porque a tendência das máquinas de lavar modernas é de fazer desaparecer uma meia – nunca duas);
• 85 Gravatas (de tipo club para todos os dias, e uma mais formal);
• 17 Lenços para os bolsos de casaco;
• 5 Camisas clássicas de cor branca;
• 13 Camisas clássicas;
• 25 Camisas para o fim-de-semana e passeio no campo;
• 8 Camisolas com e sem mangas;
• 3 Pares de pijamas;
• 1 Roupão em lã;
• 3 Roupões de Seda (para o prazer);
• 2 Casacos de interior (em veludo);
• 5 Pares de sapatos e vários pares de chinelos;
• 4 Sobretudos;
• Vários chapéus e bonés;
• Um ramo de bengalas e guarda-chuvas serão conservados no hall de entrada num alto vaso Ming ou numa carcaça de morteiro da primeira guerra mundial;
• 2 Mandas de bolas de naftalina (a traça, essa repugnante importação do Continente, põe 5 a 100 ovos de uma só vez que chocam em dez dias… mas o gentleman gosta desse cheiro particular que lhe recorda o gosta da conservação e o respeito pela tradição);
• …e, lá em baixo, mesmo lá no fundo, várias peças de roupa, oferecidas por admiradoras ou sogras e que o gentleman ainda não esteve em medida de deitar fora ou destruir.


E mais, ele guardará cuidadosamente todas as peças de roupa que deixaram de servir, para alegrar os miúdos ou para eles lhe darem nova vida (na condição que a sua esposa não as tenha anexado para seu próprio uso, em particular os casacos de tweed ou de smoking, ideia essa que faz estremecer o gentleman que não terá coragem de dizer algo. Ele guardará de forma astuta as suas camisas demasiado estreitas, explicando que um dia perderá peso e que voltarão a servir).

Encontraremos também nesse guarda-roupa os blazers e bonés da sua (s) escola (s) e da sua Universidade como o seu uniforme militar (incluindo as roupas interiores), além dos múltiplos brinquedos que ele adorou: um urso de peluche, um Mecano com uma Torre Eiffel meia concretizada, uma caixa de magia – da qual ele ainda não percebeu ainda os truques –, uma colecção de soldadinhos de chumbo carinhosamente embrulhados em papel de seda e, talvez, algumas revistas atrevidas compradas em Hamburgo numa viagem de negócios demasiada regada e das quais ele não sabe como se desfazer sem ser identificado.

De tempos a tempos, em períodos de profunda depressão, ele voltará a vestir blazers às riscas e uniformes, tentando reviver algumas das suas horas de glória do passado…

NADA É DEITADO FORA

O gentleman vestirá as suas roupas até caírem em farrapos e nunca deitará nada fora (o que é totalmente oposto a certa categoria de novos ricos que retiram do monte de roupa vistosa e sem critério de pronto a vestir, qualquer peça que comesse a apresentar os sinais de algum uso, o que por incrível que pareça comesse a apresentar a deliciosa “patine” da idade e do conforto).

De qualquer jeito, a maior parte das roupas de “troggies” transforma-se rapidamente em trapo ao fim de um ano ou dois ou, melhor, merecem ser deitados fora pelo simples facto da sua insuportável vulgaridade: revoltantes camisas de cantor pop, gravatas de veludo, impermeáveis em nylon limão verde ou cor de laranja! E todos os acessórios “que fazem a publicidade da Burberrys” diz James Holden-Taylor.


Costuma-se dizer que o escritor e crítico britânico A. N. Wilson veste sempre a mesma roupa (fato completo com colete, laço e uma camisa enrugada) até que cheire. Deitas para um canto do quarto e volta-os a vestir quando já não cheirão. Pode parecer ligeiramente excessivo mas tem a vantagem de marcar a diferença de atitude entre o Gentleman, seguro de si, e o troggies sempre hesitante.

A menos que tenha herdado dum traje (para os casamentos) ou de uma jaqueta que lhe assente bem (o lustro ligeiramente esverdeado que as velhas roupas vão ganhando é tão apreciado!) ele alugará os seus trajes formais na Moss Bross ou noutro lado. Ninguém tem nada a dizer porque a maioria das pessoas assim a fazem e são demasiados educados para o referirem. A atitude como o gentleman usa a roupa, alugada ou não, só pode enaltecer a sua classe.

Enquanto o troggie primário, agita-se, coça-se, puxa as mangas, terá um ar ainda mais estúpido do que nas suas roupas do dia-a-dia, o gentleman deslizara no meio da multidão elegante como se ele usa-se um traje todos os dias da semana, o que na realidade ele faz, pelo menos moralmente.
«Ele trazia as suas calças de veludo deformadas, um casaco de tweed que já tinha visto melhores dias, sapatos castanhos simples e uma gravata velha e manchada, em resumo a roupa adequada. E não tinha necessidade de a alterar.» (The Sunday Times, a propósito do falecido duque de Beaufort.)

Espero que este capitulo tenha sido do vosso agrado, na próxima semana, irei explicar a diferença entre gentleman, charlie, e troggie.

Até segunda-feira e seja elegante,

Cordialmente,

O Ancião

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