segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

O EMPOBRECIMENTO DO GUARDA ROUPA MASCULINO




Muito antes da crise financeira, o guarda roupa masculino já vinha a sofrer de recessão. Sobretudo, casaco de interior, colete de fato, chapéu, boné, luvas, gravata, laço, ascot, lenço de bolso, suspensórios... todos estão  tendencialmente a desaparecer. E já nem falo na cana, no relógio de bolso, e outros acessórios.
A evolução é um acto natural. Fazer de forma regular uma limpeza é um acção de higiene. As exigências da vida moderna passam por aqui. O carro encurtou o casaco e faz cair o chapéu; o aquecimento central tornou o roupão e o casaco de interior obsoletos; a nossa sociedade de lazer tornou anacrónicas as vestimentas “sport” de outrora; a forte tendência ao igualitarismo tornou difícil – de certa forma arriscado – o porte de acessórios ostentatórios.
Mas uma questão no entanto permanece: como pode, neste tempo de individualismo exacerbado os recursos vestimentarios  se terem de tal forma enfraquecidos? E já nem falo (para não ser criticado) do abandono da cor em proveito do cinzento e do preto. Os fabricantes podem pôr em relevo a personalização que os meios modernos permitem – por vezes até a preços decentes – mas só se toca em detalhes: as iniciais bordadas ao nível do quarto botão da camisa, os botões das mangas dos blazers que funcionam... “Seja você mesmo”, “mostre quem é”, “você é único”: vários slogans mediáticos que são desmentidos pelo espectáculo da rua. Por todo o lado vemos homens cinzentos, com roupas disformes e sapatos frouxos.

A originalidade passa raramente da soleira da porta. Atrevemo-nos, em casa, indumentárias interessantes, mas, quando temos de sair do aposento, temos logo uma voz a dizer que não é possível – ganha juízo – e desse jeito vestimos de imediato o uniforme igual ao dos outros que não atrairá nenhum comentário.
 
Embora individualista - até em excesso -, a nossa sociedade não sofre da singularidade das pessoas. O seu conformismo de pequeno burguês não tem fundo. Resistir a essa pressão requer coragem e audácia. Então sejamos exímios na afirmação da nossa singularidade.

Seja elegante,

O Ancião