Numa observação diária, percebemos um notável aumento de indivíduos que optaram por ornamentar o rosto com uma barba. Para alguns, esta tendência causa perplexidade. A surpresa ganha destaque quando recordamos que, ao longo dos séculos, as barbas eram a norma. Num passado não tão distante, durante a Grande Guerra, os soldados americanos impuseram o rosto imberbe na Europa: adeus, pelo menos por um longo período, às barbas e bigodes de todas as formas!
Como se o curso do tempo tivesse desenhado um arco, assistimos agora a uma ressurreição gloriosa do estilo facial piloso. Parece que os homens contemporâneos redescobriram uma arte esquecida, uma tradição perdida na névoa da história. A barba, outrora sinónimo de respeitabilidade e sabedoria, ressurge agora como um emblema de elegância rebelde.
Ao examinarmos esta revolução capilar, somos levados a questionar as razões subjacentes a esta transformação estética. Por que, num mundo onde a imagem é moeda corrente, a barba recuperou o seu estatuto de acessório de moda essencial? Será uma manifestação de rebeldia contra os cânones de beleza convencionais, ou antes uma busca consciente por uma masculinidade mais autêntica?
A figura do hipster barbudo desempenhou um papel de destaque no renascimento desta moda facial peluda. As mulheres sentiram-se atraídas por este surto de virilidade, uma reação à exaustão causada pelos homens obcecados com a estética metrosexual da cabeça aos pés. A nossa sociedade, dominada pela espetacularidade e pelos media, prospera na hipérbole, muitas vezes ignorando transições subtis. Um estranho movimento regressivo fez-nos migrar do mutante com um rosto de celuloide de robô para o homem da floresta.
Esta metamorfose não passou despercebida, tornando-se uma declaração de estilo e uma afirmação audaz contra os padrões convencionais de beleza. A barba transformou-se num símbolo de rebeldia tranquila, um distintivo que separa os homens que abraçam a sua autenticidade daqueles que se perdem na monotonia da conformidade.
Nesta incursão pela cultura facial do homem moderno, a imagem do hipster barbudo não apenas influenciou a moda, mas também desencadeou uma mudança na perceção da masculinidade. Da obsessão estilizada à naturalidade desalinhada, a barba emergiu como um ícone de individualidade, desafiando as normas estabelecidas com cada fio cuidadosamente desgrenhado. Estaremos diante de uma revolução capilar que transcende as simples tendências estéticas, ou será apenas uma fase efémera numa era de constante transformação? A resposta reside nos contornos de cada barba, uma história que se desenha em cada pelo facial, desafiando as expectativas e narrando a saga de um homem moderno em busca da sua própria autenticidade.
Importa afirmar, desde já, que a barba é um daqueles elementos que não deixa ninguém indiferente: ou se ama ou se odeia. As críticas que lhe são dirigidas são tão conhecidas como as rugas no rosto de um velho marinheiro, e podemos, de forma divertida, virá-las como se fossem uma luva.
A barba está, sem dúvida, a envelhecer. É um facto incontestável. Contudo, nesse envelhecimento, permite àqueles que se atrevem a desafiá-la testar a sua resistência perante os ditames do tempo: afinal, por que razão haveríamos de querer parecer jovens a todo o custo? Sem a barba, o rosto de Hemingway era, na verdade, desprovido de qualquer nota distintiva; com ela, transformou-se numa verdadeira janela para a alma! Que importa, então, se o grande Ernesto parecia mais velho com a barba do que sem ela!
E assim, como as palavras de um sábio romancista, a barba torna-se não apenas um adorno facial, mas uma narrativa que adiciona profundidade e caráter à história de cada homem que a escolhe exibir. Às vezes, as marcas do tempo são como capítulos de um livro bem vivido, e a barba, nesse sentido, é a tinta que dá cor a essas páginas enrugadas da vida. É uma afirmação audaciosa, um desafio lançado aos padrões convencionais de beleza que nos dizem para esconder as marcas do envelhecimento.
Portanto, abracemos a barba como uma manifestação intrépida da experiência, uma declaração corajosa contra a ditadura da juventude eterna. Afinal, na barba, encontramos mais do que pelos faciais; encontramos uma resistência enraizada na autenticidade e na recusa em ceder ao efémero culto à juventude. Assim como as melhores histórias, a barba envelhece bem, contando-nos, a cada fio grisalho, um conto de sabedoria e coragem. E é assim que, à medida que os anos avançam, a barba se torna não apenas um adorno, mas uma expressão de orgulho e uma declaração contra a tirania do tempo implacável.
A barba, por seu turno, conquistou a sua distinção aristocrática. Sim, há, de facto, uma barba associada à nobreza e à realeza. Dentre os monarcas barbudos, e não me refiro às monarquias dos países árabes, mas sim às do ocidente.
O Rei Felipe VI da Espanha exibe uma barba curta e cuidadosamente aparada. Uma afirmação de regalidade moderna, onde o poder é combinado com a elegância discreta.
Já o Rei Frederico X da Dinamarca opta por uma barba extraordinariamente curta, uma escolha que transmite uma imagem de eficiência e pragmatismo.
Do norte da Europa, o Príncipe Carl Philip da Suécia ostenta uma barba farta e ondulada. Uma expressão capilar que reflete uma mistura de tradição e contemporaneidade.
E, claro, não podemos esquecer do Príncipe Harry do Reino Unido, que mantém fielmente a tradição facial. Uma barba que se tornou parte integrante da sua imagem, uma marca de rebeldia sutil numa família real marcada por protocolos.
Mas e se imaginássemos o Príncipe Michael de Kent sem a sua barba? Parece quase uma tarefa impossível, uma vez que a sua imagem está intrinsecamente ligada à majestosa pilosidade facial que o distingue.
Assim, neste desfile de aristocracias barbadas, descobrimos que a nobreza e a realeza também são adeptas deste adorno capilar. Cada estilo, uma declaração única de identidade, onde a barba se torna uma expressão sofisticada de poder e personalidade. E assim, ao cruzarmos os salões reais, vemos que a barba não é apenas uma moda passageira, mas sim uma tradição atemporal que atravessa as eras, desde monarcas medievais até príncipes contemporâneos.
Num estudo recente, veio à luz que os homens barbudos detêm inegável poder de sedução. Segundo uma investigação da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, as mulheres demonstraram uma clara preferência por homens que não desbravavam a barba há aproximadamente dez dias. No entanto, surpreendentemente, os homens com uma barba por fazer, os quais se distanciavam da navalha por cerca de cinco dias, foram considerados os menos atraentes, numa comparação até mesmo com os seus pares completamente barbeados, como noticiou o Daily Mail.
Os cientistas apresentaram a centenas de mulheres e homens heterossexuais dez fotografias que ilustravam diferentes estágios de crescimento da barba, solicitando-lhes que atribuíssem pontuações com base na atração, masculinidade, saúde e potencial para a parentalidade.
Os homens que optavam por não se barbear durante dez dias conquistaram a preferência das mulheres inquiridas, ao passo que a barba completa obteve as pontuações mais elevadas no que toca ao potencial para a parentalidade, tanto para mulheres como para homens heterossexuais. Os homens com uma barba incipiente revelaram-se menos apelativos em ambas as categorias.
Os investigadores aprofundaram a exploração da perceção da masculinidade pelos seres humanos e dos seus "atributos sociosexuais". Este estudo foi divulgado no periódico "Evolution and Human Behaviour".
Tudo reside na forma como se maneja a barba. Com uma camisa xadrez sobre uma regata, calças de veludo com nervuras pesadas e sapatos desalinhados, ela torna-se um apelo à revolução. Já num visual ultra requintado, o seu lado natural, quase selvagem, cria um contraste do qual aprendemos a esboçar efeitos fascinantes.
Falando de barba, talvez devesse esclarecer: nada de barba de três dias, esse estilo tão popular entre a esquerda caviar e pseudo-artistas. Melhor uma boa barba à la Marx ou Fidel Castro, que revela claramente as intenções, sem enganar ninguém. Aliás, no próximo dia 10 de março, teremos de escolher entre vários barbudos, como Pedro Nuno Santos, André Ventura, José Soaeiro e Rui Tavares. O indeciso Rui Rocha que tanto se esquece ou não de desfazer a barba e os imberbes da AD (Luís Montenegro, Nuno Melo, Gonçalo da Câmara Pereira) ou do PCP Paulo Raimundo. Ou somos barbudos ou não. O meio-termo é quase nada, é um pouco mesquinho. Também não nos referimos às barbas estilo "bode", tão comuns em seguranças, bombeiros ou polícias. Qualquer fantasia exagerada, facilitada pelas modernas tosquiadeiras, deve ser evitada, pois pode ser interpretada como um sinal de coqueteria duvidosa.
Pode-se argumentar: "Muito bem, mas é necessário ousar!" E ousar ter barba nem sempre é fácil no mundo profissional. Contudo, nas suas próximas férias, aproveite a oportunidade, experimente, e verá! Para justificar a sua audácia, pode até lançar uma aposta, sabendo de antemão que está destinada ao fracasso, transformando-a num verdadeiro teste de barba. Afinal, a barba não é apenas um adorno facial; é uma afirmação de estilo, uma expressão de individualidade que, quando feita com audácia, pode desencadear mudanças significativas, até mesmo nas convenções do mundo profissional.